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Quando eu, Ampara Animal e Carrefour deixamos de ser virgens. A primeira vez a gente nunca esquece

Por Eduardo Pedroso

Foi numa madrugada fria de julho de 2019 que a primeira experiência de controle ético de gatos domésticos (Felis catus) em ambiente de varejo, utilizando como base o método CED, aconteceu envolvendo uma ONG, uma empresa do ramo referido e um técnico de gestão ambiental preparado para aplicar o método também acima referido.

Dentro do Hipermercado Carrefour São Caetano do Sul foram capturados 13 gatos. Parte deles caiu nas armadilhas automáticas da Fermarame no bazar, outros entraram nos equipamentos de captura no estoque da loja. Ao final da madrugada o ambiente interno do supermercado estava livre dos bichanos. Eu e um casal de colaboradores da Ampara Animal, que me auxiliou no trabalho, ficamos extenuados e felizes com a ação. Tomamos café da manhã no local, no refeitório da empresa.

Todos os gatos foram transferidos para caixas de transporte e logo na primeira hora da manhã seguiram para a clínica Sphynx, na região do Ipiranga, em São Paulo, onde a Dra. Thamires Sigarini os castrou com técnica minimamente invasiva. Salvo engano eram oito fêmeas e cinco machos. Todos adultos com idade entre um e cinco anos. A Dra. Thamires também os marcou na orelha esquerda com corte reto, meio centímetro do topo para a base, e os vacinou com vacina antirrábica.

A devolução foi feita na manhã seguinte às esterilizações, e os preparativos para essa devolução tinham sido traçados dias antes.

Aproveitando a rotina de alimentação que acontecia desorganizadamente, um local foi reservado para essa rotina, e horários foram fixados para que colaboradores da empresa alimentassem os gatos. O local reservado foi o que se convenciona chamar no varejo (pelo menos no Carrefour é assim) de Ativo. O Ativo é um lugar da doca onde gôndolas e carrinhos de supermercado fora de uso são empilhados.

Tecnicamente foi escolhido para a soltura dos animais o local mais distante das áreas internas e da circulação de pessoas e caminhões.

Durante um ano e alguns meses o plano funcionou com perfeição. A colônia foi condicionada dentro dos limites do espaço oferecido e não buscou mais alimentação nas áreas internas da loja. Os gatos deixaram de gerar a famosa “quebra”, que tanto prejuízo dá ao setor do varejo. Até porque a comida para a colônia era disponibilizada, com suficiência e qualidade, em horários rigidamente determinados e seguidos.

Parecia um sonho.

Problemas afetando a segurança alimentar da população humana, visitas da vigilância sanitária, prejuízos materiais, risco de maus tratos aos animais e exposição negativa da empresa nas redes sociais estavam afastados.

Esse sonho se desfez por conta de uma característica muito marcante do varejo. Os colaboradores são continuamente deslocados de uma unidade para outra ou desligados das empresas. Essa característica do varejo é muito negativa para um projeto de controle de espécies.

Um projeto como esse depende, fundamentalmente, do fator humano. E se a substituição dos funcionários responsáveis pela manutenção da colônia não passa pela preocupação de treinar os novos funcionários que chegam, muito, ou quase tudo, se perde.

Eu estive outras vezes nessa unidade do Carrefour prestando serviços para a Ampara Animal. Encontrei uma situação muito diferente daquela que foi construída com muito esforço em julho de 2019.

Fatores como alteração do quadro de colaboradores, alteração na configuração do espaço externo e falta de continuidade de monitoramento, determinaram que o sonho se desfizesse.

No entanto, ele é possível.  

Eduardo Pedroso

Técnico em gestão ambiental

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