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Gato selvagem raro e ameaçado de extinção é visto em São Carlos-SP durante trabalho de controle de gatos domésticos

Por Eduardo Pedroso

A localização exata do registro de um gato-mourisco (Puma yagouaroundi) será evitada para não estimular abandono de gatos domésticos (Felis catus) na colônia que está sendo controlada por uma ONG da cidade. Veja o vídeo.

Colônia é no jargão de quem pratica o método CED (captura, esteriliza e devolve) um ajuntamento de gatos domésticos de vida livre, um território escolhido pelos animais, ou estimulado por pessoas, onde os bichos fazem sua área de vida. É nesse local que eles se alimentam e reproduzem.

Para reduzir o impacto da espécie exótica-invasora no meio-ambiente, a ONG ASA (Amigos Salvando Amigos), promove atividade de controle em colônias do município de São Carlos, cidade do noroeste paulista, distante cerca de 250 km da Capital.

Espécie exótica-invasora é a classificação que se dá para animais que não são originários da fauna silvestre brasileira, lembrando que o gato doméstico surgiu no Egito antigo, derivado do gato-selvagem-africano (Felis silvestris lybica) para controle biológico de roedores há cerca de 10.000 anos. O gato doméstico chegou ao nosso continente trazido por navegadores europeus durante as Grandes Navegações, como se convencionou chamar o período de descoberta e colonização das Américas e outros lugares.

Em contraposição aos exóticos-invasores temos os animais nativos, espécies endêmicas da porção do planeta onde vivemos, como o gato-mourisco, que é encontrado em quase todo o território brasileiro e nas fronteiras com Argentina e Uruguai.

Gato-mourisco fotografado em unidade de conservação em Maricá-RJ.

O registro do gato-mourisco de São Carlos aconteceu no cumprimento da etapa de devolução de gatos domésticos para a colônia, no final da madrugada de sábado, 23 de março de 2024.

A câmera do celular estava ativada para gravar a soltura dos gatos quando no horizonte surgiu a figura de um gato maior, de cor escura, comprido e muito rápido. Ele chegou a parar para nos observar, e logo andou rapidamente e entrou em um corredor de um prédio.

Biólogo consultado

Minutos após o registro o vídeo foi enviado para o biólogo Rafael Mana, do Núcleo da Floresta, que confirmou tratar-se de um gato-mourisco. “É um mourisco sim, com certeza! Só pega o bicho (registra) de dia, de noite é muito difícil conseguir vê-lo andando, ele é praticamente diurno.”

Risco de extinção

Uma avaliação publicada na Revista Cientifica Brasileira em 2013 nos dá uma triste notícia.

” … em um cenário mais conservador, a população efetiva da espécie é de apenas 5.200 indivíduos, e certamente inferior a 10.000 indivíduos. “

Para ter acesso ao estudo feito por biólogos do Brasil e Uruguai, clique aqui.

Controlando gatos domésticos e ajudando os animais silvestres

O método CED, criado em Londres, na Inglaterra, nos meados do século XX, tem por objetivo frear a reprodução do gato doméstico, algo importante se levarmos em consideração o impacto que essa espécie causa na saúde pública e no bem-estar animal (por conta do excesso da população e inevitáveis casos de maus-tratos à própria população de gatos de vida livre).

Outro benefício que advém do método é a diminuição do impacto na vida selvagem, uma vez que o “enxugamento” do número de indivíduos exóticos-invasores faz com que a competição por presas com os nativos seja arrefecida. Além da competição por comida, diminuem também as chances de transmissão de doenças entre as espécies e o hibridismo, algo que também ameaça as populações de gatos selvagens do planeta.

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