Um vídeo bem legal, de aproximadamente dois minutos, foi divulgado há cerca de um mês nas redes sociais do Núcleo da Floresta, um dos mais importantes centros de reabilitação de animais silvestres do país.
As imagens mostram o biólogo Rafael Mana capturando com um puçá uma raposa-do-campo (Lycalopex vetulus) nas dependências de uma cervejaria em Itu, cidade localizada cerca de 100km da capital paulista.
Veja o vídeo aqui: captura da raposinha
O pequeno canídeo, inicialmente confundido pelos funcionários da cervejaria com um cachorro do mato (Cerdocyon thous), foi corretamente identificado pela equipe do Núcleo após a captura.
“Na verdade, se trata de uma Raposinha-do-campo, animal de Cerrado, considerado na categoria “Vulnerável” de extinção pelo ICMBIO/MMA. Até o momento não havíamos registrado essa espécie no município!”, publicou a comunicação do Núcleo da Floresta nas redes sociais da instituição.
Um seguidor do Núcleo nas redes questionou sobre a presença de um animal de Cerrado na região, e a resposta foi que “existem fragmentos de Cerrado em Itu e região, o que justifica a ocorrência de espécies do Bioma”.
Sobre a raposinha estar na lista de espécies vulneráveis do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), significa que ela corre risco de extinção na natureza. Isso se dá basicamente por dois motivos, perda de habitat e pressão de caça. Outro motivo que pode levar a um decréscimo do número delas na natureza é o contato com cães domésticos (Canis lupus familiaris). Esses transmitem doenças próprias de canídeos para a espécie nativa, competem com a raposinha por comida e as vezes fazem da mesma sua refeição.
Esse é um problema grave e crescente, e que afeta não só a raposa, mas diversas outras espécies silvestres. Rafael Mana afirma que cerca de 25% das ocorrências que chegam ao Núcleo da Floresta são de animais nativos atacados por cães e gatos.
Apesar do cuidado do Núcleo em fazer uma triagem dos animais que são atendidos e separar as ocorrências por suas motivações, essa não é uma realidade observada em larga escala no Brasil. Traduzindo e acrescentando, não há no país um estudo abrangente que dê conta de mostrar estatisticamente quais são os problemas que afetam nossa fauna silvestre.
Não sabemos que percentual de nossos animais nativos desaparecem anualmente vitimados pela caça ilegal, perda de habitat, ataque de animais domésticos e tráfico. Infelizmente esse mapeamento não existe de maneira significativa. Ele seria muito importante na adoção de medidas estratégicas de defesa e conservação dos nossos animais silvestres.
Voltando para a raposinha, seu resgate foi solicitado ao Núcleo pois ela estava com uma das patas machucadas. Se quisermos classificar o problema que levou esse pequeno animal ao estado que chegou, podemos apontar a perda de habitat e a falta de educação ambiental das pessoas. Não é nada positivo dar comida para animais silvestres. Essa atitude os torna dependentes da mão humana, e eles passam a habitar lugares inadequados e inseguros. No exemplo dado, a raposinha foi condicionada pela alimentação dos funcionários da cervejaria e se acidentou na fábrica.
Em breve a raposinha estará recuperada e será devolvida para seu habitat natural.
Porque é assim que tem que ser!
O Núcleo da Floresta abriga dezenas de animais silvestres para tratamento todos os meses. Um percentual muito bom desses animais, cerca de 75%, se recupera dos traumas e doenças graças ao trabalho da equipe multidisciplinar da instituição. Os animais reabilitados são devolvidos para a natureza.
Você pode colaborar com o Núcleo da Floresta dando suporte financeiro.
Vamos ajudar nossa fauna silvestre?
A chave Pix do Núcleo da Floresta é o e-mail: nucleodafloresta@terra.com.br
Eduardo Pedroso para a Revista Bom Criador número 20, março de 2022, ano 03