Eduardo Pedroso para Faunauê
A ação ocorreu entre os dias 15 e 22 de janeiro e contou com apoio do grupo Pet Noronha, que abrigou os filhotes de gatos resgatados para prepará-los para adoção responsável. Outro apoio foi do NVA (Núcleo de Vigilância Animal), braço da vigilância sanitária da ilha, que cedeu seu centro cirúrgico.
Nesse local a Dra. Alessandra Benedetti, veterinária voluntária da Ampara animal e o Dr. Alexandre Dutra, médico que atua na ilha contratado pela Administração, esterilizaram 75 gatos empregando a técnica minimamente invasiva, ou CMI (castração minimamente invasiva). Todos os indivíduos que passaram pelas mãos da equipe médica foram marcados na orelha esquerda com um corte reto, de meio centímetro, do topo para a base, conforme a convenção espontânea utilizada internacionalmente.
Foi essa marcação, feita em ações anteriores, que permitiu que as equipes de campo identificassem que 40 gatos capturados não precisariam ser transportados para o centro cirúrgico, pois estavam castrados. Evitou-se assim que os animais sofressem desnecessariamente, e que os custos da ação fossem maiores.
No total, 115 indivíduos foram capturados com armadilhas automáticas do tipo tomahawk, rede (puçá) e drop trap. Desse montante um pequeno percentual foi retirado e devolvido para as residências, sendo esse pequeno percentual de animais, domiciliados ou semi-domiciliados. Importante notar que o projeto de controle total dos gatos da ilha não despreza indivíduos que sejam domiciliados ou semi-domiciliados. Por isso é importante que moradores da ilha que possuam gatos não castrados procurem orientação no NVA ou ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
Quantos gatos existem na ilha?
Essa pergunta importante pode ser respondida verificando as duas ações anteriores. Na primeira, em setembro de 2019, foram 500 castrações, incluindo os animais que foram beneficiados pelo mutirão de castração que ocorreu paralelamente às capturas empreendidas pelas equipes de campo. Na segunda ação, em janeiro de 2021, 96 gatos foram esterilizados e marcados.
Além dessas informações é preciso contabilizar o trabalho do ICMBio e do NVA, que atacam o problema de maneira contínua, castrando gatos fora dos períodos das ações.
Segundo a médica veterinária e voluntária do ICMBio, Taysa Rocha, temos 1.323 gatos castrados em Fernando de Noronha. Esse número, se confrontado com a divulgação de dados do Instituto Brasileiro para Medicina da Conservação (Tríade) em fevereiro de 2019, é bastante animador, uma vez que a contagem da Tríade, publicada pela BBC News Brasil, apontava que existiam 1.300 indivíduos na ilha.
Entretanto é preciso considerar que entre a divulgação desse número e o início da primeira ação, passaram-se sete meses. E que o ano de 2020, por conta da pandemia, foi perdido para o trabalho de controle.
Dada a facilidade de adaptação ecológica do gato e sua reprodução acentuada, é claro que o número de indivíduos passou a ser maior que 1.300. Estima-se que existam ainda em Fernando de Noronha entre 100 e 200 gatos inteiros, ou sem castração.
Quantidade relativamente pequena se considerarmos a efetividade das ações e da atividade interna perene de controle, levados a cabo conjuntamente entre ICMBio, Ampara Animal e Administração da Ilha. Se o futuro próximo for de continuidade do projeto, é possível que entre um e dois anos a população de gatos de Fernando de Noronha esteja controlada.
A fauna nativa agradece
Não é segredo que o gato doméstico (Felis catus) exerce enorme pressão sobre os animais silvestres, e esse conflito fica ainda mais evidente em ambientes insulares como Noronha, com a presença de espécies, grande parte endêmica, que não evoluem para se defender de animais exóticos invasores. Lembrando que o gato é um exótico invasor.
À medida que aumentar o controle sobre o gato, diminuirá a pressão sobre as espécies nativas. O mabuia (Trachylepsis atlatica), pequeno lagarto outrora abundante na ilha, terá mais presença, assim como as aves, especialmente o rabo-de-junco-de-bico-laranja (Phaeton lepturus) e a noivinha (Gygis alba).
As equipes de campo
Duas equipes se revezaram na ação. Uma aplicou o método CED (Captura, Esterilização e Devolução) durante o dia, e a segunda continuou o trabalho debaixo da lua cheia de Noronha, explorando os locais com colônias de gatos durante as madrugadas.
Alessandra Benedetti, médica veterinária responsável pelas castrações da ação, voluntária da Ampara Animal
Alexandre Dutra, médico veterinário responsável pelas castrações da ação, contratado da Administração de Fernando de Noronha
Eduardo Pedroso, técnico em gestão ambiental, prestador de serviço da Ampara Animal
Franciane Santos, guarda parque do ICMBio
Gabriel Garcia, voluntário do ICMBio
Geisiane Maiara, voluntária do ICMBio
João Alisson, voluntário do ICMBio
Joao Batista, motorista do ICMBio
João Victor, voluntário do ICMBio
Lana Guaitanele, voluntária do ICMBio
Larissa Araujo, voluntária do ICMBio
Marcos Fialho, biólogo do ICMBio
Pedro Henrique, voluntário do ICMBio
Ricardo Araújo, analista ambiental e coordenador de pesquisa e manejo de espécies exóticas do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha
Rosana Camilo, guarda parque do ICMBio
Taysa Rocha, médica veterinária, coordenadora da ação e voluntária do ICMBio