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Contato não é maus-tratos! Artigo do jornalista Franklin Maciel

Por silperman

Por Franklin Maciel

Que a paz esteja com você.

Há 35 anos, os nossos legisladores foram sábios ao colocar na constituição de 88, a Constituição Cidadã, no artigo 225, parágrafo sétimo, uma definição simples, objetiva e que qualquer cidadão, seja comum ou erudito, é capaz de entender e respeitar sobre os direitos dos animais e maus tratos VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.

Veja bem, crueldade. Uma definição simples, clara e objetivo sobre o que são maus tratos, a intenção de dolo, de fazer o mal, entretanto, 35 anos depois, o que mais vemos são pessoas ignorantes ou mau intencionadas, mal resolvidas consigo próprias, querendo impor sobre a sociedade suas neuroses e ideologias sui generis, que visam enquadrar como maus tratos, todo e qualquer comportamento e contato amistoso, colaborativo e afetivo entre homens e animais que fuja aos rigores impostos por seus padrões de vida fúteis, estéreis e sem sentido.

De repente, pessoas incapazes de cuidar da própria vida, quiçá então de cuidar de um passarinho ou de um gato ou cachorro, resolvem se transformar em fiscais da vida alheia e dos costumes e promover uma verdadeira caça às bruxas, irracional, inoportuna, perversa, mesquinha e interesseira, como toda perseguição ideológica é, e se auto-intitulando heróis, protetores e porta vozes dos animais, deformam as leis, o respeito, a cultura, as tradições, invadem casas, devassam a privacidade das famílias e seus animais, em nome de um moralismo barato que dê algum sentido as suas vidas frustradas e aos seus ressentimentos mais profundos.

Mais se esse comportamento já é reprovável em pessoas comuns e políticos oportunistas que veem na manipulação de fanáticos um caminho fácil para o poder, a fama e o enriquecimento ilícito, o mesmo é inaceitável quando ocorre dentro de instituições como o Ibama que tem por dever e razão de existência garantir um ambiente seguro, onde as leis sejam respeitadas e não interpretações fanatizantes das mesmas, com suas falsas analogias e distorções flagrantes da realidade, pra fazer caber seus abusos na execução dessas regras.

Analisemos o caso do agente do Ibama, Roberto Cabral, um desses que dão seus pareceres infalíveis e isentos como tenta fazer crer a ministra do Meio Ambiente Marina Silva, para impor seus interesses sobre os interesses da nação (video marina).
Recentemente, Cabral organizou uma operação sobre um zoológico no estado de Pernambuco, o Pet Silvestre, onde os animais acabaram confiscados sob alegação de maus-tratos e transportados amontados em caçambas de caminhonete sob sol escaldante e desde então não se teve mais notícias deles.

Entre as justificativas que sustentariam os supostos maus-tratos dos quais os animais estariam sendo vítimas, estaria a ideia de que os animais viveriam sob forte stress por serem obrigados a interagir com visitantes, mesmo se tratando de animais dóceis como araras e que passaram por processo de sociabilização comportamental do tipo, imprinting, ou estampagem em português, onde os animais desde muito pequenos aprender a ter humanos como de sua espécie, portanto, gostam desse contato, sentem prazer nesse contato com humanos e, pasmem, ao serem retirados do convívio humano, de forma abrupta, como foi o caso do confisco do Ibama, podem desenvolver depressão, como um cão separado do dono, ou seja, ai sim, começam de fato, a se tornarem vítimas maus tratos praticados pelo Estado.

Entretanto, para buscar convencer pessoas comuns e leigos de que toda interação de visitantes com animais em zoológicos seriam perigosas e seriam reprodutoras de maus tratos, Cabral, o técnico infalível do Ibama de Marina Silva, usa imagens de internet de algum lugar ignorado, fora do país, provavelmente na Asia, onde um tigre é isolado apenas por uma tela e um tonto resolve por a mão e perde o braço, como se interagir com araras fosse a mesma coisa que interagir com um tigre, um dos maiores predadores carnívoros do planeta.

Noutra situação corriqueira, Cabral sempre alude a um caso pontual ocorrido nos Estados Unidos onde houve bioinvasão de serpentes do tipo pithon para atacar a criação comercial de répteis no Brasil, alegando que pode desencadear numa bioinvasão de cobras. Entretanto, Cabral esconde das pessoas leigas, vários fatores como o fato de serem espécimes diferentes das pithons comercializadas no Brasil, de que na região das everglades nos Estados Unidos, havia dezenas de criadores locais e que a bioinvasão se deu após um furacão que destruiu a região e espalhou de uma só vez na natureza local, centenas de exemplares da serpente que desta forma conseguiram se reproduzir na natureza, diferente do Brasil que nunca teve incidência de furacões, os criadores não são próximos uns dos outros, e que se uma serpente, por ventura fugir do plantel, além de rastreáveis, por todas terem chips e afins, ainda tem o fato de que andorinha só não faz verão, ou seja, sem outras serpentes da mesma espécie e de sexos diferentes por perto, não há como ter reprodução e bioinvasão, fora o fato de que nosso ambiente tem muito mais predadores que as everglades americanas.

Resumindo: Puro suco de pânico moral para induzir as pessoas ao erro, criarem ojeriza e a se distanciarem de zoológicos e criadores comerciais, assim como aplaudirem ações, amiúde arbitrárias e violentadas por parte do Ibama ou de ongs contra esse dois parceiros fundamentais na causa animal para evitar a extinção das espécies no Brasil e combater o tráfico internacional de animais, do qual o Ibama segue perdendo de lavada como o próprio Cabral faz questão de noticiar em suas páginas repletas de ideologia barata, sobre as ararinhas e micos endêmicos do Brasil que foram encontrados e roubados no pais vizinho, Suriname.

O fato é que com demagogia e ideologias baratas que visam afastar humanos do convívio com os animais para atender sabe-se quais interesses, quem acaba pagando o pato são os próprios animais e a economia do país que vai assistindo sua biodiversidade ser roubada para ser explorada por outros países porque fanáticos querem viver sua realidade paralela de paraísos fictícios.

Franklin Maciel é jornalista, consultor de políticas públicas e ambientalista há mais de 30 anos.

Na foto que ilustra a matéria vemos um gambá (Didelphis sp.).

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