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Silvestre é pet? Resposta do biólogo Sandro Secutti

Por Eduardo Pedroso

Eu o chamo de professor, pois foi num curso de manejo de fauna silvestre, dentro do Núcleo da Floresta, um importante centro de recuperação de animais silvestres (CRAS) localizado na cidade de São Roque – SP, que eu o conheci.

A pergunta foi feita para ele.

Faunauê: Sandro Secutti, silvestre é pet?

Sandro Secitti: Sim. Porém é preciso considerar que não é toda espécie que é passível de se tornar um animal de estimação. Eu sou a favor de uma lista pet bem reduzida.

Faunauê: Uma lista que defina qual espécie possa ser reproduzida e comercializada. A famosa e polêmica lista pet.

Sandro Secutti: Isso mesmo. Uma lista bem enxuta, que cumpra o papel de preservar as espécies na natureza, evitando que indivíduos sejam retirados diretamente de seus habitats naturais.

Faunauê: Essa é uma colocação muito interessante, pois diferente do que imaginam as pessoas que querem restringir absolutamente a criação ex-situ de caráter comercial, o desejo das pessoas de ter um animal silvestre como companhia é algo que se perde na noite dos tempos.

Sandro Secutti: Sim. Quando se pensa na sobrevivência da espécie na natureza é preciso “apelar” para o comércio com algumas espécies. As pessoas pensam apenas na condição imediata do indivíduo, mas é preciso analisar de uma forma mais generalista, é necessário inserir esse indivíduo dentro do contexto de preservação de sua espécie.

Faunauê: Excelente. É a ideia de redução de danos. Para impedir a coleta direta da natureza, o que é muito impactante de forma negativa, cria-se a possibilidade da obtenção de um indivíduo para satisfazer a necessidade das pessoas que querem ter um animal de estimação não convencional.

Sandro Secutti: É sempre preciso pensar na natureza. Foco na natureza. O comércio de silvestres se faz necessário para que uma parte das pessoas não levem a extinção determinadas espécies. Essa é uma visão importante, não podemos ser egoístas. O tráfico é um comércio enorme e global. Se proibirmos a criação de silvestres para comércio as espécies serão extintas pelos traficantes.

Faunauê: É impossível contestar essa afirmação. Novamente, redução de danos.

Sandro Secutti: O tráfico de animais é poderoso, só perde em importância para armas e drogas.

Faunauê: Professor, sua fala é fundamental para a compreensão da relação humanos e animais silvetres.

Sandro Secutti: Sim. É preciso pensar num todo com as espécies na natureza, é necessário suprir um mercado para que esse não retire animais de seus habitats.

Faunauê: Mais alguma consideração?

Sandro Secutti: O argumento de que mesmo com o funcionamento da criação ex-situ para comércio o tráfico continuará a existir, precisa de ponderação em sua análise. O animal proviniente do tráfico é cinco vezes mais barato que o animal legalizado, e sempre vai haver alguém que vai pelo caminho torto. Mas aí é uma questão moral, eu posso também comprar o carro dos meus sonhos no mercado de veículos roubados. As consequências podem ser ruins.

Faunauê: Obrigado, Sandro Secutti.

Sandro Secutti é biólogo pós-graduado em Biólogia, Manejo e Conservação de Animais Selvagens. Fornece assessoria técnica para criadores comercias, mantenedores de fauna e zoológicos.

Na foto que ilustra a matéria vemos o biólogo Sandro Secutti segurando um jabuti-piranga (Chelonoidis carbonaria).

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