O Dr. Jefferson é uma referência no exercício da medicina dedicada aos animais selvagens. Sua clínica, a Zoomedica Meu Pet Diferente, situada em Mogi das Cruzes, cidade próxima a capital paulista, é um sucesso também no tratamento de animais exóticos.
A pergunta foi feita para ele. Chamou atenção em sua resposta a alusão ao fato de que os povos originários tinham seus pets, e obviamente esses eram animais silvestres. Há um termo em tupi-guarani para se referir a animal de estimação, xerimbabo. Talvez, no melhor dos mundos possíveis, adotariamos a prática dos índios e substituiriamos paulatinamente a massa de cães e gatos, que causa decrescimo de fauna nativa, por xerimbabos. Acho que ainda não estamos preparados para essa conversa. E antes que me corrijam, sim, as aldeias indígenas estão repletas de cães e gatos.
Faunauê: Dr. Jefferson Leite, silvestre é pet?
Dr. Jefferson Leite: A pergunta deveria ser formulada da seguinte maneira: silvestre pode ser pet?
Faunauê: Pode?
Dr. Jefferson Leite: Obviamente que sim. Exemplos não faltam, a criação de silvestres como animais de estimação antecede o descobrimento do nosso país, quando os indios que aqui viviam já criavam diversas espécies silvestres como animais de estimação.
Faunauê: Isso é muito interessante. Lembro que o Wagner Àvila, na entrevista que inaugurou a série, tinha feito alusão à ancestralidade humana e o contato inexorável da nossa espécie com as demais espécies que habitam o planeta. Mas esse apontamento direto para os povos originários do Brasil, ainda não tinha surgido nas conversas.
Dr. Jefferson Leite: Legal. E do ponto de vista legal (risos) existem diversas legislações federais e estaduais que normatizam a criação e a comercialização de algumas espécies silvestres. Ainda sob o ponto de vista legal não é permitido a simples coleta de animais da natureza para transformá-los em animais de estimação.
Faunauê: Quais seriam as consequências de retirar animais nativos de seu habitat e levar para casa?
Dr. Jefferson Leite: Essa prática, além de causar um grande impacto ambiental, também impacta a saúde pública, uma vez que as espécies de vida livre podem carrear diversos patógenos, muitos, iclusive, desconhecidos.
Faunauê: Isso é bem sério. Que as pessoas saibam que retirar animais da vida livre pode ser perigoso. Inclusive indivíduos da fauna doméstica, como cães e gatos. Lembrando que o conceito de vida livre é baseado na autossuficiencia do bicho, e não no local onde ele se encontra.
Dr. Jefferson Leite: Sim. A criação normatizada e profissional de espécies silvestres também nos dá conhecimento para fazer a conservação das espécies em vida livre. E diminui o poder do tráfico, pois sendo possível adquirir animais de forma legal, a maioria das pessoas não vai querer obter de forma clandestina e se arriscar a penalizações da lei.
Faunauê: Curiosamente as pessoas que defendem a proibição da criação comercial de animais silvestres afirmam que o fazem para defender os animais dos traficantes.
Faunauê: Mais alguma consideração?
Dr. Jefferso Leite: Além das espécies nativas permitidas hoje para criação e comercialização, muitas têm um grande potencial de se tornarem animais pet.
Faunauê: Muito obrigado, Dr. Jefferson.
Dr. Jefferson Leite é médico veterinário do CCZ de Mogi das Cruzes desde 2001, atuando na área de resgate de fauna silvestre e urbana. Possui especializações em perícia médica veterinária pelo IMESC (Instituto de Medicina Social e Criminologia de São Paulo), saúde sública pela Universidade de Ribeirão Preto e clínica médica e cirúrgica de animais selvagens pelo Instituto Qualittas. Também possui especialização em anestesia, urgências e emergências em animais silvestres e exóticos pela Faculdade Método de São Paulo (FAMESP).
Desde de 1996 é o clínico de pets não convencionais da clínica Zoomédica – Meu Pet Diferente, localizada em Mogi das Cruzes, SP.
Na foto que ilustra a capa da matéria vemos o Dr. Jefferson Leite devolvendo uma preguiça (Folivora) para a natureza. Na foto que ilustra o corpo da matéria vemos o médico com uma coruja suindara (Tyto furcata).