O ambientalista Wagner Ávila esteve no local e constatou a grave situação de sofrimento dos animais.
Cunha é uma pequena cidade do Interior paulista, distante 220 kms da capital do Estado e com uma população de aproximadamente 20.000 habitantes. Localizada no Vale do Paraíba, Cunha é um paraíso entre montanhas, cachoeiras e campos de lavanda.
No começo de 2022, uma denúncia de crime ambiental chegou às autoridades locais e uma história, ainda longe de ter um desfecho, teve início.
O ambientalista Wagner Ávila nos conta em entrevista o que ocorreu e o que se passa no local.
Faunauê: Wagner Ávila, você pode nos contar o que aconteceu antes de sua recente visita ao município de Cunha? O que é “O caso dos bois de Cunha”?
Wagner Ávila: No dia 02 de fevereiro de 2022 o Gaema (Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente) recebeu uma denúncia anônima de maus-tratos a bois nessa cidade. Em 48 horas uma força-tarefa foi montada com Polícia Civil, Polícia Ambiental, políticos, mídia e 18 ONGs.
Essa força-tarefa encontrou os bois na lama, lembrando que era verão e o índice pluviométrico é alto. Havia três bois mortos. Eu conheci a região, é lugar de montanha e serras, é o Vale do Paraíba. Muitas vezes proprietários de animais e seus funcionários ficam sem acesso a partes de propriedades, e consequentemente não conseguem manejar os bichos das fazendas. Possivelmente o gado morto encontrado estava nesse contexto. Provavelmente tenha sido impossível socorrero gado por conta das chuvas torrenciais. De toda forma, três bois foram encontrados mortos e dois em estado de inanição. Os demais estavam magros pois tratava-se do conhecido processo de trabalho do meio pecuário chamado de “compra dos bois magros”. São animais que vem do gado leiteiro. O empreendedor compra o gado magro, vermifuga, engorda com ração farta e em 90 dias vende o gado para o frigorífico.
Faunauê: E o que aconteceu com os bois quando a força-tarefa chegou?
Wagner Ávila: Só para completar. O empreendedor não comprou os bois para cometer maus-tratos, ele comprou para praticar a pecuária de engorda, que consiste em adquirir o animal magro e recuperá-lo para vender, é a pecuária de recria.
Faunauê: O que aconteceu com os bois em fevereiro de 2022 após a denúncia e a mobilização de ativistas?
Wagner Ávila: Os bois foram removidos da fazenda Santa Cruz e levados para o centro de exposições da cidade. Dois meses depois foram para a fazenda São Geraldo, arrendada para abrigar os animais.
Faunauê: E o que você encontrou na recente visita que fez aos bois de Cunha?
Wagner Ávila: Vi muito boi para pouco pasto, meio-ambiente totalmente degradado, o riacho da propriedade sem nenhuma mata ciliar, nenhuma vegetação de proteção, as margens desmoronando e o rio sendo assoreado de forma rápida e definitiva. Bois com pelagem arrepiada e opaca, bichos com aparência esquálida, pele e osso. Quase todos os animais em estado horrível, realmentre pele e osso.
Faunauê: Bois magros, como estavam no inicio de 2022.
Wagner Ávila: Pele e osso, estão com aparência bem ruim.
No ano de 2022 ativistas receberam R$ 260.000,00 do Gaema – Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente – para cuidar dos bois.
Faunauê: Além do contato visual com os bois, com quem mais você teve contato nessa fazenda?
Wagner Ávila: Com o veterinário responsável, com o capanga, com tratadores e com o proprietário da fazenda arrendada.
Faunauê: E como foram esses contatos?
Wagner Ávila: A princípio eu não perguntei nada. Eu e o jornalista Ricardo Roggieri começamos a fotografar e logo aconteceram tentativas de nos acuar, nos amendrotar. Vieram para cima de nós com ameaças, dizendo que não poderíamos fazer registros da situação terrível a que os animais estão submetidos
Faunauê: Você acha que faltam recursos para cuidar desses bois?
Wagner Ávila: De forma alguma faltam recursos para cuidar desses bois. Eu tenho certeza que houve captação de dinheiro que possibilitaria cuidar desses animais por 50 anos. Durante 60 dias os bois ficaram no centro de exposição da cidade. Durante esse período a Rede Globo fez cobertura do caso e muitas pessoas pediram pix.
Faunauê: Então muito dinheiro entrou nas contas das pessoas envolvidas no resgate dos bois?
Wagner Ávila: Muito dinheiro! Para se ter uma ideia, os ativistas precisaram comprar um trator no valor de R$ 70.000,00. Levantaram essa grana em quatro horas… Estima-se que levantaram R$ 200.000,00 por dia durante a estada dos bois no centro de exposição.
Faunauê: São 12 milhões de reais.
Wagner Ávila: Um boi custa R$ 1.400,00 por ano para seu criador. No ato da exproprição os ativistas receberam R$ 260.000,00 do Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente, o Gaema.
Faunauê: Mais alguma consideração?
Wagner Àvila: Sim. Tirem suas próprias concusões.
Faunauê: Obrigado, Wagner Ávila.