Na terceira matéria da série Silvestre é pet?, a pergunta foi feita para um cara que faz do seu conhecimento das palavras uma ferramenta eficiente em sua luta contra o oportunismo e os desmandos de um grupo politico que se “enfiou” na proteção animal e dela sobrevive como um hospedeiro. Melhor, como uma larva de mosca na ferida de um cão de rua, um cachorro sem dono e com miíase, a famosa e cruel bicheira.
Talvez essa seja uma boa imagem para traduzir esse fenômeno que se convencionou chamar de fofofauna. Esse grupo político e seus seguidores, a fofofauna, inicialmente preocupados com cães e gatos, agora infestam o mundo silvestre. Querem acabar com a criação legal de animais, limitar os zoológicos, impedir a pesquisa cientifica e a educação ambiental inerentes a essas instituições e no lugar dos zoos, criar santuários, locais privados e não fiscalizados para colocar animais. A fofofauna quer ditar regras com sua visão de mundo delirante que não passa de uma ideologia rasa e sem fundamento, e por isso mesmo tão apreciada pela população mais desavisada em tempos de destruição de valores e princípios.
É sorte existir uma cara como o Franklin Maciel para colocar o dedo nessa ferida.
Prestem atenção sobre o que ele fala do gambá Emílio, recentemente apreendido pelo IBAMA sob acusação de maus-tratos. É uma aula de análise e defesa de um ponto de vista sobre um fato e suas causas e efeitos.
Faunauê: Franklin Maciel, silvestre é pet?
Franklin Maciel: Silvestre pode ser pet a depender da sua origem. É o que determina a lei desde 1967! Animais silvestres nascidos e criados em criadouros licenciados podem ser comercializados, aliás, a atividade inclusive, segundo a própria lei, deve ser estimulada pelo próprio Estado, através de uma política de regularização e ampliação do número de criadouros licenciados. O resto é militância, propaganda e desinformação de gente que usa ideologias fanatizantes para ocultar interesses pessoais, políticos e financeiros.
Faunauê: Qual é a dimensão dessa militância nos dias de hoje? A pergunta é pertinente pois pareceu bastante assustador a ativista Luísa Mell falar diretamente com a direção do IBAMA no caso da capivara Filó. Lembrando que a Luísa Mell não é bióloga, veterinária e nem profissional de qualquer atividade correlata e, principalmente, não possuí nenhum conhecimento técnico sobre a pauta ambiental.
Frankiln Maciel: Existe um ditado que diz quem quem nunca comeu melado, quando come, se lambuza. Saímos de um período onde a opinião das pessoas comuns era simplesmente ignorada, para um momento, proporcionado pelas redes sociais, onde todo mundo passou a ter voz. O fato é que a repentina liberdade de falar o que pensa, não veio junto com a responsabilidade sobre aquilo que se fala, então muita gente oportunista, sem qualquer preparo nem responsabilidade, se aproveitou para ganhar fama imerecida vocalizando sensos comuns (eu acho, então é) por meio da emoção sufocada na população pela sensação de injustiça, para aglutinar pessoas num sentimento de vingança contra tudo e todos, mobilizando pessoas e apoios financeiros para fins pessoais e econômicos travestidos com o verniz de causa social, quando no fundo, a maioria desses influenciadores camuflam apenas os interesses políticos e econômicos de grupos que querem suplantar os grupos pré estabelecidos.
Faunauê: Você está dizendo que oportunistas estão ocupando o lugar dos ambientalistas. É isso?
Franklin Maciel: Não existe vácuo no poder. Os oportunistas só estão ocupando os espaços de representação porque as pessoas realmente preparadas não o estão fazendo. Quando as pessoas realmente responsáveis, preparadas e capacitadas deixarem de lado aquilo que as desune e se unirem em torno dos pontos que as une referentes a causa animal, esses farsantes terão de procurar outra Freguesia. Porque a lógica do oportunista é a do trombadinha: agem onde é mais fácil. Por exemplo, foi iniciar um processo de desmascaramento dos oportunistas que usam cães e gatos para se promoverem, que boa parte deles está se deslocando para atacar animais silvestres e defenderem santuários, que são minas de dinheiro de doação de difícil fiscalização. No fundo, os oportunistas são como as ervas daninhas. Só ocupam o espaço dos legumes na horta quando o agricultor não toma conta.
Faunauê: Estamos às voltas com mais um caso apreensão do IBAMA a um animal de origem silvestre. O que você acha que pode acontecer com o gambá Emílio?
Frankiln Maciel: Se vc cruza no caminho com um animal silvestre acidentado ou abandonado. Qual procedimento deve ser adotado? Virar as costas? Levar pra casa e tentar cuidar mesmo sem conhecimento veterinário algum; Levar a um veterinário particular, a um órgão do Estado? Qual órgão, onde fica, como funciona, quando e como?
É justamente nesse vácuo de informações práticas, claras e precisas, sobre situações reais e corriqueiras que aumentaram muito com o avanço das cidades para as regiões de floresta por conta da especulação imobiliária, que deveria ser um dos focos principais de uma política ambiental preventiva, que oportunistas e palpiteiros de plantão encontram terreno fértil para cometerem toda sorte de barbaridades, sempre levando em consideração o achismo, a opinião, o umbigo, a fofurice e claro, dindim, muito dindim, afinal, tanto no caso da capivara Filó quanto do gambá Emílio sempre aparece alguém explorando a imagem do animal para buscar audiência monetizável nas redes sociais , que não conseguiria por méritos próprios. Sempre uma historinha triste, carregada de tintas emocionais para criar uma novelinha na cabeça de gente suscetível a acreditar em qualquer coisa e assim fisgar a pessoa pelo chamado: Capitalismo da Emoção.
Com esse modus operandi, muita gente medíocre levantou e ainda levanta fortunas em doações, supostamente no intuito de cuidar dos animais, quando não conquistam votos e posições nos parlamentos para os quais não tem qualquer vocação ou preparo, com o slogan : Animais não podem votar, votem (em mim!) por eles.
O problema é que, uma vez eleitas, essas pessoas encontram uma realidade muito diferente do discurso raso de amor aos animais, e em vez de se instruírem e trabalharem em prol de uma política ambiental e animal consistente, simplesmente usam os mandatos para amplificar a maquininha de pânico moral, para encherem mais os bolsos e os animais e o meio ambiente que se explodam.
Entretanto, em razão de órgãos ambientais como o IBAMA, assim como ocorreu com as polícias, estarem cheios de gente que quer usar o cargo para se autopromover através do sensacionalismo, fugindo do escopo do órgão, casos como esses do gambá e da capivara que poderiam ser divisores de água sobre a percepção da população sobre a posse responsável de animais, vão pelo ralo, com cada lado querendo lacrar mais que o outro, como essa falácia que vê maus tratos em tudo, com justificativa para toda sorte de abusos.
O fato é que no mundo real, humanos e animais convivem e coexistem, queiram aceitar isso ou não os fanáticos de ambos os lados, e cabe a todos que queiram viver num mundo civilizado e justo, superar os extremismos dos que advogam para que tudo seja permitido e dos que advogam para que tudo seja proibido, para chegarmos ao que realmente funciona : que são regras do COMO PODE.
Quando atingirmos esse nível de maturidade que é possível através da política saudável, a ofensa, a agressão contra um, será uma agressão contra toda a sociedade e os super-heróis de barro que exploram pessoas e animais para se autopromoverem e tirar proveitos pessoais da alienação, serão vistos como o que realmente são: vigaristas e criminosos, verdadeiros lobos em peles de cordeiro explorando a ignorância alheia.
Faunauê: Obrigado, Franklin Maciel.
Franklin Maciel é jornalista, consultor de políticas públicas e ambientalista há mais de 30 anos.
Na foto que ilustra a matéria: Franklin com seus dois cães da raça akita inu, Kazuo e Kira.