Cidade de 12.000 habitantes no sudoeste baiano recebeu em março profissionais para ação de captura e castração de gatos de vida livre.
A Dona Geralda não deixou faltar nada, da hospitalidade e comida deliciosa servida para a equipe de trabalho às informações fornecidas sobre a colônia de gatos que ela cuida e monitora há anos. Faça chuva ou faça sol, lá está ela alimentando os cerca de 30 animais de rua que fazem área de vida no terreno ao lado de sua casa, muitos deles conhecidos e com nome, como o grandão branco Van Damme, “um terror para as gatas”, segundo ela própria. Van Damme, como quase toda a colônia, foi capturado com armadilha automática da Fermarame, castrado pelos médicos veterinários do Vet Nômade, vacinado contra raiva com vacina fornecida pela Galeria dos Animais Felizes, marcado na orelha esquerda com um corte reto, como prevê o protocolo internacional do método CED (captura, esterilização e devolução) e devolvido para o local onde foi capturado para tocar sua vida, agora sem “aterrorizar” as gatas.
No total foram 55 gatos beneficiados, 33 fêmeas e 22 machos. A maioria do terreno. Outros 16 animais de famílias do entorno participaram da ação, alguns desses precisaram de captura. A conta fechou com animais capturados no sítio de parentes da Dona Geralda e levados para a cidade, onde o Rodrigo Vet Nômade e sua equipe os esterilizaram com técnica minimamente invasiva. O emprego dessa técnica de castração possibilitou a devolução rápida e segura dos gatos para suas áreas de vida, sendo cumprido novamente, e de maneira muito eficiente, o protocolo do método CED.
Nos bastidores da ação de sucesso, o Projeto Faustina
Dona Geralda não cuidou bem só dos gatos de sua cidade, formou duas filhas apaixonadas por bichos e que promovem ações de bem-estar e controle de população. A Sônia Pereira e a Célia Santana comandam o Projeto Faustina, que está baseado em São Paulo e tem grande parte de suas ações feitas na capital paulista.
Sobre o trabalho em Mortugaba, a palavra é da Sônia. ” A necessidade de montar uma ação de controle na minha cidade natal veio por conta da reprodução absurda dos gatinhos no terreno do lado de casa, um problema que parecia não ter fim, muitos filhotes atropelados, descontentamento da vizinhança etc. A ideia de castrar uma parte dos gatos da cidade ficou forte e corremos atrás. Veio a Pandemia, atrasou um pouco, até que tomamos fôlego e seguimos procurando uma solução. Encontramos muitas propostas com valores acima do nosso orçamento, até que recebemos indicações dos trabalhos do Vet Nômade e do Eduardo Pedroso. Com eles foi possível seguir em frente e estamos muito felizes com o resultado, e também sabemos que não podemos parar por aqui, serão necessárias outras ações de controle em Mortugaba.”
A população de gatos de vida livre no Brasil, mistério e problemas
Os problemas são conhecidos e podem ser identificados e nomeados pela tríade: saúde pública, decréscimo de fauna silvestre e maus-tratos em oposição a situação de bem-estar.
Para a saúde pública duas doenças preocupam e atingem com mais gravidade a população humana, a raiva e a toxoplasmose. Uma terceira zoonose, é assim que se chama uma doença com potencial de contágio de seres humanos, é a esporotricose, essa com menor alcance, mas nem por isso deve ser desprezada.
O decréscimo da fauna silvestre é algo muito silencioso e cruel. A IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) nos diz que o gato é responsável pelo extinção de 14 espécies animais em nosso planeta. No Brasil, o país com a maior diversidade de fauna do mundo, seria muita inocência afirmar que o gato doméstico (Felis catus) não preda e causa estragos irreparáveis. Para se ter uma ideia da dimensão do problema, 30% dos animais silvestres que chegam ao Núcleo da Floresta, o famoso centro de reabilitação de animais silvestres baseado na cidade de São Roque, interior paulista, são vítimas de ataques de cães e gatos.
Para o número três da tríade temos a afirmação, facilmente comprovada no dia a dia de quem se preocupa com os animais de rua, que o bem-estar dos gatos de vida livre é comprometido pelo número enorme em que se encontra a população hoje. Envenenamentos, agressões e atropelamentos são comuns.
O mistério fica por conta da falta de interesse que o governo e a sociedade civil demonstram pelo problema. Não há nenhum programa de controle das colônias espalhadas pelas cidades brasileiras e também nenhum estudo a respeito. O comportamento do governo é adotado pela academia e pelos biólogos, não havendo algum que se debruce sobre o tema importante e gritante.
Quantos gatos de rua temos no Brasil?
Os números da OMS (Organização Mundial de Saúde) sobre gatos de rua no Brasil não podem ser levados a sério. A entidade aponta 10 milhões de indivíduos e contraria a lógica e a experiência de quem convive com a situação.
Em 2021 o Censo Pet IPB coletou e apresentou dados que atualizaram o cenário do número de gatos indoor, os que vivem dentro de uma residência e possuem donos. São 27,1 milhões de indivíduos.
Metonímia para contrariar a OMS
A metonímia é uma figura de linguagem que explica uma realidade tomando uma parte dessa para alcançar um resultado que a explique. Voltando a Mortugaba, quantos gatos dentro de casas e com donos podem ser apreciados em comparação aos de vida livre? O número de vidas livres, sem exatidão, é muito maior.
Portanto, se temos 27 milhões de gatos domiciliados no Brasil, qual número de vidas livres teremos?
Eduardo Pedroso para Faunauê