Dedetizadora autuada pela Polícia Militar Ambiental em dezembro de 2021
Em agosto de 2015, Ana Paula (nome fictício) flagrou funcionários da Desentupidora e Dedetizadora Loremi capturando gatos no páteo de uma montadora de carros em São Bernardo do Campo, cidade do ABC Paulista.
Perguntados, os funcionários disseram que os gatos seguiriam para a ONG Adote Um Gatinho (AUG). Não contavam que a Ana Paula era uma então voluntária da ONG.
A mentira descortinou para a sociedade brasileira uma história chocante. Uma dedetizadora capturando gatos e ocultando o destino dos animais.
Instada pelo jornalista Eduardo Magossi, que tomou conhecimento do fato por meio da assessoria jurídica da AUG, a ONG Bicho Brother se mostrou solidária e passou a investigar o ocorrido. Foi até a sede de dedetizadora, no bairro da Freguesia do Ó, na cidade de São Paulo, alegando a intenção de adotar um dos gatos capturados dentro da montadora. Não conseguiu. Não havia gatos na controladora de pragas.
Onde estavam os gatos?
Após grande clamor popular nas redes sociais pedindo informações sobre o paradeiro dos animais e acolhimento da denúncia pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP), Dolly (nome fictício), moradora de uma casa com muitos animais na região oeste da cidade, enviou um e-mail para a ONG Bicho Brother pedindo socorro.
A dedetizadora estava desovando gatos em sua casa. E eram muitos!
Dolly contou para as ONGs e para o MPSP sobre o seu envolvimento com a controladora de pragas, a Loremi, e assombrou a todos ao afirmar que gatos dos páteos de uma famosa rede de supermercados também estavam sendo capturados e conduzidos para sua casa, local inadequado e sem estrutura para, naquele momento, abrigar a quantidade de animais verificada pelas ONGs.
Houve mais barulho na Internet e a controladora de pragas conseguiu, alguns dias após o estouro do escândalo, uma liminar na Justiça que proibia as ONGs de falarem sobre o assunto nas redes sociais e em qualquer outro veículo de comunicação. As ONGs acataram a determinação judicial, que previa multa de R$ 5.000,00 por dia de descumprimento da liminar.
Esse episódio triste e famoso não teve consequência alguma para a controladora de pragas
O MPSP, especificamente o GECAP (Grupo Especial de Combate aos Crimes Ambientais e de Parcelamento Irregular do Solo Urbano), arquivou o processo em agosto de 2016 alegando falta de provas. Nas palavras da promotora Vânia Tuglio: “Não se verificou crime de maus-tratos”.
Apesar da não verificação de maus-tratos por parte da promotoria, duas gatas ferais abrigadas pela ONG Bicho Brother morreram na metade do ano de 2016. As duas, resgatadas da casa de Dolly com complicações cirúrgicas decorrentes de uma esterilização malfeita por um veterinário ligado à dedetizadora, nunca apresentaram melhora de saúde significativa e literalmente definharam nas mãos dos médicos e protetores da ONG. Uma grande tristeza se abateu sobre as pessoas que acompanharam a tragédia particular dessas gatas. Tristeza e revolta contra a impunidade.
O farto material levantado pelas ONGs, incluindo o depoimento de Dolly, tomado dentro da sala do GECAP, foi desconsiderado pelas autoridades que arquivaram o processo.
Loremi ataca
Por outro lado, a “Justiça” funcionou. A dedetizadora acionou judicialmente a AUG e a Bicho Brother alegando calúnia e difamação. As ONGs foram condenadas pelo juiz Guilherme Ferreira da Cruz, da 45º Vara Cível do Foro Central da Capital, a pagar R$ 20.000,00 cada uma para a Loremi, por danos morais. Inicialmente a Loremi queria mais de R$ 400.000,00 de cada instituição de defesa animal. As ONGs recorreram e uma tríade de desembargadores anulou em segunda instância a decisão do juiz.
Loremi continua em ação
Recentemente, dezembro de 2021, a dedetizadora se envolveu em uma confusão na cidade de Caraguatatuba, em um condomínio onde a ONG Bicho Brother controlou uma colônia de gatos aplicando o método CED.
Problemas internos da gestão do residencial provocaram a contratação da Loremi para “retirar” os gatos do local.
Dedetizadora, condomínio e tercerizado da Loremi (um capturador) foram autuados pela Polícia Militar Ambiental local e responderão judicialmente pela tentativa de remoção dos animais comunitários. O trabalho da polícia está em andamento.
Mais notícias em breve!
Fonte: Faunauê
Eduardo Pedroso